"De perto, ninguém é normal. / From up close nobody is normal." (Caetano Veloso)

Saturday, December 9, 2006

Lições de Vida

Nunca fui "religiosa",
Muito menos leitora da Bíblia...

Mas acredito na espiritualidade e
tenho me tornado mais uma espírita praticante.

E em meio à tudo isso, achei este texto abaixo interessante.


Compaixão humana

Para mais de 2 bilhões de cristãos em todo o mundo, Jesus não foi apenas um líder religioso. Ele é o próprio Deus. A imagem é tão forte que muitos chegam a se esquecer de que ele teve uma vida humana aqui na Terra mesmo, na região que hoje faz parte de Israel, a cerca de 10500 quilômetros do Aeroporto Internacional de São Paulo. “Não há nos evangelhos nenhuma citação na qual Jesus se proclame fi lho de Deus”, diz o professor André Chevitarese. “Essa simbologia é uma construção cristã”. Na época em que ele vivia, quem se proclamava rei de verdade eram os imperadores romanos. Ou seja: segundo os historiadores, Jesus definitivamente não deveter se preocupado muito em fazer marketing pessoal.
O grau de humanidade de Jesus sempre foi um dos temas mais polêmicos dos primórdios do cristianismo, discutido exaustivamente nos principais centros da cristandade (como essa discussão gerava embates intermináveis no Império Cristão de Bizâncio, atual Turquia, teria surgido daí a expressão “discussão bizantina”). A resposta da Igreja para essa discussão veio na forma da Santíssima Trindade, em que Jesus é ao mesmo tempo Pai, Filho e Espírito Santo.
Discussões teológicas à parte, é inegável que Jesus sempre se reconhecia como um ser humano igualzinho a mim, a você e a todo mundo. E, por mais clichê que possa soar, não há como deixar de usar a palavra compaixão para descrever um dos mais importantes de seus legados. Sua mensagem de amor ao ser humano foi tão grande e irrestrita que alguns pesquisadores chegam a dizer que Jesus fez o Deus Jeová do Antigo Testamento (a Torá judaica) parecer um pai carrancudo que era tomado de ira constantemente com seus filhos por não compreender bem como era estar no lugar deles. “Apesar de não ser correta a idéia de que o cristianismo promovera um rompimento total com a tradição judaica, é inegável que a figura de Cristo passa a imagem de um Deus marcadamente mais amoroso que no passado”, diz Luiz Felipe Pondé. “Na tradição judaica, em que Jesus viveu, estava muito claro que o homem deve temer a Deus acima de tudo. Com Jesus, a mensagem passa a ser amar a Deus acima de tudo.”
De certa forma, os ensinamentos de Jesus parecem sempre lembrar que é preciso ter humildade para reconhecer que a vida humana não é tão fácil quanto possa aparentar para um Deus. Como diz o escritor americano e ex-jesuíta Jack Miles, autor de Cristo – Uma Crise na Vida de Deus, uma das principais forças da mensagem cristã deriva da simbologia de que o próprio Deus teria se tornado homem para sentir na pele o que é ser humano. E mais: teria tido tanta compaixão dos homens que se sacrificou na cruz para redimir a humanidade de seus pecados. Uma lição e tanto de humildade, incompatível com a arrogância de uma divindade superior e distante do plano terreno.

Superação do ego

Não deixa de ser curioso: enquanto milhares de pessoas buscam Jesus para obter realizações em benefício próprio, o homem que viveu na Palestina do século I não teve nada do que se possa chamar de uma carreira voltada para o sucesso pessoal. “Quem tiver dúvidas quanto a isso só precisa se lembrar de como ele morreu”, diz o professor Pondé. Seja nos evangelhos canônicos, seja nos apócrifos, Jesus parece sempre ir na contramão dos que buscam status social ou reconhecimento público por seus atos. Nesse sentido, seu destino teria sido semelhante ao do filósofo grego Sócrates, que, quatro séculos antes, encarara com serenidade sua condenação à morte pelo tribunal ateniense por suas idéias – um desprendimento típico de quem não considera seu “eu” algo mais importante do que os valores em que acredita. Seus intérpretes lembram que esse desapego ao próprio ego não pode ser confundido com o ato desesperado de um suicida, cujo falso desprendimento à vida nada mais seria do que um pedido de socorro do ego em busca de mais reconhecimento – ainda que como mártir, após a morte. Assim como no caso de Sócrates, não há nenhum indício de que Jesus não tivesse apreço pela vida humana. Tampouco queria fazer de seu fi m um espetáculo que pusesse ser adaptado para as telas do cinema por Mel Gibson. Tudo o que fez teria sido viver de acordo com os valores em que acreditava, o que incluía encarar a brevidade da vida com a humildade de quem sabe que a vida na Terra é finita.
A mensagem parece desalentadora à primeira vista, mas foi libertadora para muitos seguidores de Jesus. Ao nos lembrarmos constantemente de que a vida acaba, estaríamos livres para buscar o que realmente importa – e isso não inclui desperdiçar uma existência inteira em busca de poder ou bens materiais passageiros. Não é à toa que monges cristãos na Idade Média costumavam carregar um crânio de verdade por onde quer que fossem. A cena, bastante retratada na pintura desse período histórico, não teria nada de mórbido, muito pelo contrário. Sua função era apenas a de lembrar que, como todos voltaremos um dia ao pó, o melhor a fazer é pensar bem em como aproveitar o dia de hoje.
Amar o distante
Até hoje, muita gente acha difícil entender o quão revolucionária foi a mensagem de amor de Jesus em sua época. Para isso, talvez seja melhor entender um pouco mais sobre seu tempo. “Dentro do mundo politeísta greco-romano, a idéia de amar o amigo já era um pressuposto comum. Mas era comum também a idéia de que era natural odiar o inimigo”, diz o historiador André Chevitarese. “Quando Jesus diz “ama o próximo como a ti mesmo”, independentemente de o próximo ter alguma filiação a você [‘filia’ é o prefixo originado do grego que significa amigo], ele põe em risco a organização de qualquer império ou sistema religioso por meio de uma mensagem radical.”
Até então, ninguém discutia o fato de que judeus deviam amar judeus, romanos deviam amar romanos, filhos deviam amar os pais e assim por diante. A noção de pertencer a uma família, a um império ou a uma religião passava, necessariamente, pelo estreitamento dos laços entre os próximos. A contrapartida desse sentimento de união era a repulsa, a negação (ou mesmo eliminação) de outros grupos. Ou seja: não fazia muito sentido para um judeu imaginar que ele deveria amar um romano, que respeitava mais o imperador que o deus dos judeus.
Dentro do judaísmo da época, ter contato com pessoas, alimentos e até objetos de quem não compartilhava da mesma fé era considerado um ato impuro. A doença física também era considerada impureza, devendo ser curada por meio de regras religiosas (boa parte dessas regras está registrada no Levítico, a parte da Bíblia que trata das leis). Sendo assim, não é difícil imaginar a surpresa dos que seguiam Jesus ao perceberem que ele insistia em romper essas regras convidando pessoas de todos os credos, raças e ofícios – como Maria Madalena, que exercia a mais antiga profissão de todas – para sentar-se ao seu lado na mesa, muitas vezes desagradando aos próprios discípulos.

Uma só ética

Pelo menos em teoria, parece realmente fácil amar o outro. Mas o que fazer quando o outro nos agride?
Por mais de uma vez, Jesus deparou com perguntas desse tipo. Em meio a tantas correntes religiosas e políticas da época, as pessoas exigiam respostas mais claras sobre como agir diante de pessoas ou grupos que as oprimiam. Como no tempo de Jesus os opressores do povo judeu eram os romanos (que dominavam a região desde 67 a.C.), então nada mais natural que se cobrasse dele uma posição mais veemente contra os adversários. Mas suas respostas são decepcionantes para quem procura discursos inflamados de oposição. Jesus parece estar sempre caminhando na direção oposta à do confl ito. Jesus buscava a conciliação dos contrários.
Uma das passagens mais conhecida de seus ensinamentos, registrada no Evangelho de Lucas, exemplifica bem essa posição. O trecho diz que certo dia foram enviados espiões para tentar surpreender Jesus com uma dessas perguntas cabeludas – como aquelas que jornalistas fazem para colocar o presidente em apuros em uma coletiva de imprensa. A pergunta começava com um elogio: “Mestre, sabemos que falas e ensinas com retidão e, sem levar em conta a posição das pessoas, ensinas de fato o caminho de Deus”. E depois vem o desfecho, direto ao ponto: “É lícito a nós pagar o tributo a César ou não?”
Na prática, a pessoa estava perguntando a Jesus se os judeus, já bastante explorados pelos romanos, ainda assim deveriam pagar impostos pacificamente para sustentar um império que sequer compartilhava das mesmas crenças que as deles. A pergunta inteligente, que parecia colocar Jesus em uma sinuca de bico, teve uma das respostas mais emblemáticas da história, que gera discussões até hoje.
Após pedir para lhe mostrarem uma moeda romana, Jesus pergunta: “De quem traz a imagem a inscrição?”Responderam: “De César”. Jesus disse então: “Devolvei, pois, o que é de César a César, e o que é de Deus a Deus”.
Segundo o historiador David Flusser, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, autor de Jesus, o pronunciamento dele não expressava nenhuma simpatia especial pelos romanos. Por outro lado, revelava que Jesus não apoiaria nenhuma revolta armada contra eles. “Seu ensinamento ético tornava isso impossível”, escreveu o pesquisador. A mensagem da não-violência, mesmo em momentos críticos, não poderia ter sido mais contundente. O amor é incompatível com a violência. E ponto final.
Até hoje os cientistas políticos discutem sobre a incompatibilidade entre a ética cristã e a ética do poder, que em alguns casos exigiria inclusive o uso da violência para impedir um mal maior. A base dessa discussão surgiu com o autor de O Príncipe, o pensador florentino Nicolau Maquiavel, no século 15, para quem, em certas situações, uma certa dose de mal poderia produzir um bem maior do que uma ação bem-intencionada tomada na hora errada. De acordo com essa passagem de Jesus, não existiriam dois caminhos possíveis: a ética seria uma só e os fins nunca justificam os meios.

Ame, não julgue

A frase acima expressa muito bem uma das mensagens mais fortes apontadas por todos os especialistas diante dos ensinamentos de Jesus: não adianta rezar, analisar ou tentar compreender racionalmente alguém se você não estiver preparado para amar.
Apesar de parecer uma pregação fácil, os estudiosos dizem que esse é um dos mais complexos e radicais ensinamentos de Jesus. É bom lembrar que não estamos falando aqui do amor como uma emoção sentimentalista, genérica, impalpável como um poema escrito em um diário. Nem tampouco do amor familiar ou aos amigos mais próximos. O que Jesus propõe é uma atitude de amor incondicional diante dos outros, uma postura mental mais difícil de ser alcançada sem treino e preparação interior.
Nesse ponto, há quem veja uma relação bem próxima entre os ensinamentos de Jesus e os de Sidarta Gautama, o jovem rico que no século 6 a.C. abandonou sua casa e teria atingido a iluminação, tornando-se, assim, o Buda. Um dos ensinamentos básicos de Buda é o de que precisamos desenvolver uma mente nãojulgadora, já que todo julgamento cria automaticamente uma separação entre o “eu” e os “outros”. Como para os budistas essa separação é fictícia e geradora de mais sofrimento, a mente que julga deveria ser substituída por uma mente que tem compaixão. “No momento em que você for capaz de ver o sofrimento dos outros, irá parar de censurá-los e também parar com seu próprio sofrimento”, explica o monge budista vietnamita Thich Nhat Hanh, autor de Jesus e Buda – Irmãos, que traça um paralelo entre as mensagens cristãs e budistas. “Se você está sofrendo e acredita que isso é criado pelas pessoas ao seu redor, é conveniente olhar outra vez”, diz o monge Hanh.
Os ensinamentos de Jesus seguem na mesma direção. De nada adianta culpar alguém por seus males se você ainda não desenvolveu a capacidade de refletir sobre os próprios erros. Daí as célebres passagens cristãs: “Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado”. E, antes de sair por aí criticando os defeitos dos outros, nunca é demais lembrar a frase atribuída a Jesus: “Por que olhas a palha que está no olho de teu irmão e não vês a trave que está no teu?”

Generosidade

Como você se sente ao dar uma esmola polpuda na frente de seus colegas? Qual sua verdadeira intenção ao dar conselhos àquele amigo que está sofrendo e precisa tanto de você? O que está por trás dos seus atos de generosidade?
Se você é uma daquelas pessoas que acreditam que o importante é fazer algo de bom, não importando as intenções, talvez esteja indo ao encontro de um dos ensinamentos menos lembrados de Jesus: o de não fazer boas ações com o único intuito de ser reconhecido por outras pessoas. São várias as passagens em que Jesus faz uma crítica cortante a esse tipo de conduta. No Evangelho de Mateus, a mensagem é curta e grossa: “Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti (...) para seres louvado pelos homens”.
A questão aqui não é apenas o fato de que é melhor portar-se discretamente que ser espalhafatoso na hora de fazer boas ações. O que os ensinamentos de Jesus deixam claro é que é preciso ter consciência do motivo que se esconde por trás dos nossos atos. Sem perceber, a nobre causa social que tanto nos incita a aderir a um projeto partidário pode encobrir um simples desejo de alcançar o poder. Ou aquele sentimento agradável que você sente após fazer uma boa ação pode não passar do orgulho que infla o amor-próprio em detrimento da intenção de ajudar. Tudo indica que para Jesus as intenções moldam as ações – e por isso mesmo elas são tão importantes.
Só assim, portanto, tendo na mente e no coração a mensagem de um dos maiores mestres da humanidade, todos nós – homens e mulheres de todas as cores e credos – poderemos viver em harmonia conosco e com os outros seres humanos deste planeta. Lembrando sempre essa verdade fundamental: somos todos irmãos.
[Fonte: Vida Simples]

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